Seu Pereira e Coletivo 401, FIESP, Outubro de 2025
Eu já vi shows do Pereira, em Manaus, em São Paulo, com Coletivo, sem Coletivo, da plateia, da coxia, sozinha, acompanhada, trabalhando no local do show, participando no palco e posso afirmar com toda certeza que cada vez é uma experiência única, mas certamente, sempre lotada de gente, de uma energia absurda e de um magnetismo que esse homem tem.
Acho que nunca escrevi sobre nada disso e de certo tenho muito pra falar!
O Último show que vi em Manaus antes de me mudar foi de Pereira sozinho, Modulo Lunar, no Muiraquitã, lotadíssimo. Ali a vibe era outra, seja pelo espaço, mais cara de casa pra mim, ou pela companhia que tinha no dia — que também tinha cara de casa — , ou talvez pelo momento que eu me encontrava, também. Mas o show em si foi íntimo, cru, quase confessional, todo mundo estava completamente desarmado, nós e o Falcão. Cada canção soava como uma verdade nua dita no pé do ouvido.
Já em SP, a coisa foi outra! Peguei uma porrada no City Lights! Coletivo completo! Público colado no palco. A experiência foi bruta, quente, viva, pulsante, energia de catarse, incêndio. A banda parecia tocar no compasso do suor do público! Do meu, inclusive, que estava na beira do palco esperando minha vez de cantar Meio Fio, com um nervosismo desgraçado, mas essa é outra conversa.
Era impossível ficar parado, as letras, cheias de ironia e afeto, viravam mantra coletivo, coro, todo mundo dançou e cantou do início ao fim. Parecia que o tempo se dilatava entre um refrão e outro. A energia que os meninos emanam tem esse poder, dentro e fora do palco.
Desde o primeiro acorde, o público entende que não se trata apenas de música, mas de um encontro, os meninos assoviam e chupam cana, além de tocar, cantam, dançam, pulam, rebolam, descem até o chão e sapateiam no palco, o espetáculo é completo. O som chega quente, o groove da cozinha é absurdo, o baixo de Thiago e a bateria de Victor costurados pela guitarra de Chico e os metais que nos dois shows que vi em SP eram Felipe e Sandro, que faz muito jus ao posto normalmente ocupado por Daniel.
No meio disso tudo, a voz de Pereira se impõe com o sotaque que não disfarça as origens e nem há motivo pra tal — inclusive é impossível passar uma noite rodeada dos meninos sem introjetar o ritmo de fala deles — .
O público vibra, canta junto, ri das ironias e se reconhece nas letras, uns mais, outros menos. Em certos momentos, o show parece virar uma celebração coletiva da própria resistência: dançar e cantar como quem se recusa a se render. Há algo de político, mesmo quando não se fala de política — porque tudo, ali, é território de expressão e liberdade.
No Teatro da Fiesp, tudo veio com outro peso, talvez mais nítido. As luzes, o som cristalino, o palco mais sério, o público sentado no início, meio contido, até perceber que não dava pra ficar parado. A cada música, a formalidade se dissolvia e o teatro se transformava em roda, em quintal, em celebração. Pereira jogou o setlist pra galera decidir (como sempre) e as músicas mais calmas que estavam planejadas deram lugar ao movimento. Foi bonito ver o mesmo repertório ganhar outra pele: as palavras soavam mais afiadas, os arranjos mais abertos, ele falou bastante nesse show, a performance parecia mais teatral, inclusive, a minha, dessa vez Bicho Solto, mais à vontade.
Nesse último ano em SP conheci duas pessoas que amam o trabalho de Pereira e do Coletivo.
Wes — paulista do abc, de Diadema — sempre me fala que quando conheceu Seu Pereira, há uns anos, era um som super nichado por aqui, muito alternativo para os ouvidos paulistanos e é massa vê-lo lotando casas a cada passagem e dessa vez não foi diferente.
E também Vini — sergipano, de uma classe média de Aracaju, residente em SP há 7 anos — ele e Viana, também de Aracaju, têm disco e tudo, o amarelo Eu Não Sou Boa Influência Pra Você, e isso tudo chega de uma forma completamente diversa pra eles que, inclusive, nesse último show, o teatro da Fiesp esteve tão cheio que não conseguiram entrar pra assistir.
E a grande questão é essa! Pereira e o Coletivo cantam com certo humor e muita lucidez de um lugar e um cotidiano que conversa com todos nós e é impossível não se deixar envolver, mas certamente a coisa toda bate muito diferente em cada um, e talvez eu só tenha me dado conta disso agora, pós Obsoleto, mais precisamente ouvindo Boy da Amarok, que nunca vai ser ouvida igual por ouvidos paulistanos e que ficou de fora desse show pra dar lugar aos pedidos do público da Fiesp.
Quando o último acorde no show se desfaz, fica uma sensação de ter vivido algo raro: uma comunhão, que pra mim sempre continua numa mesa de bar pós show.
Dito isso eu preciso assisti-los em João Pessoa!
Learn more about Essa talvez seja mais uma review de show.
