Do TikTok aos microtextos: o que venho aprendendo sobre UX Writing

Migrar da redação para as redes sociais e, depois, para o UX Writing, é um movimento que está me fazendo repensar não apenas como eu escrevo, mas também como eu enxergo a própria ideia de comunicar.

Na redação e no marketing, minha escrita era um convite: persuadir, vender, encantar. Hoje, no UX Writing, ela precisa ser outra coisa — precisa guiar, acolher e facilitar.

Nesse processo, comecei a prestar mais atenção ao espaço onde tudo acontece: os meios digitais. Descobri que eles não são apenas ferramentas, mas verdadeiros ecossistemas vivos, pulsando de interações e transformações. Escrever, percebi, nunca é feito no vazio. Cada frase nasce entre plataformas, linguagens e hábitos de consumo que moldam a forma como pensamos, sentimos e trocamos mensagens.

Foi nesse caminho que encontrei a ideia da ecologia dos meios digitais. Mais do que adaptar o tom de voz de um produto, passei a enxergar o meio como um organismo vivo — em constante diálogo com quem o usa. McLuhan já dizia que “o meio é a mensagem”, e essa frase nunca fez tanto sentido para mim.

O impacto das plataformas: o caso do TikTok

O TikTok, por exemplo, não é só mais uma rede social. Para mim, ele se tornou um espaço vivo — rápido, visual, sonoro — que redefine não apenas como consumimos conteúdo, mas também como produzimos. Ali, tudo precisa ser direto, envolvente e capaz de capturar atenção em segundos.

Essa lógica não fica restrita aos vídeos. Ela se espalha. Influencia a forma como as pessoas conversam, como se relacionam com marcas e até como interagem com microtextos em uma interface digital. Escrever para esse contexto é diferente: exige ritmo, impacto e autenticidade. Não basta ser claro; é preciso soar vivo.

UX Writing na ecologia digital

Ao escrever para contextos digitais, percebi que não consigo separar técnica de cultura. Oralidade, humor, memes, áudios, jeitos próprios de falar — tudo isso aparece no cotidiano e acaba influenciando como escrevemos e lemos online.

É por isso que sinto que ainda tenho muito a aprender. Não basta seguir manuais ou copiar fórmulas prontas. O desafio está em observar como as pessoas realmente usam a tecnologia, como se comunicam no dia a dia e como esses gestos moldam a experiência digital.

Pensar em termos de ecologia me ajuda a escrever com mais empatia. A cada microtexto, tento lembrar que não estou apenas guiando cliques, mas participando de uma conversa maior — feita de referências, afetos e pequenos detalhes da vida online.

Conclusão

Escrever para meios digitais, para mim, é escrever dentro de um organismo vivo. Um espaço em movimento constante, feito de histórias, referências e emoções que circulam o tempo todo.

Isso exige técnica, claro, mas também pede escuta, humildade e repertório. Cada texto que coloco no mundo dialoga com algo maior do que ele mesmo: com o contexto ao redor, com as experiências de quem o lê, com formas de se expressar que estão sempre mudando.

Talvez o meu maior desafio no UX Writing seja esse: não esquecer que, por trás de cada botão ou mensagem, existe uma pessoa real com expectativas, memórias e experiências únicas. E é com essa consciência que sigo aprendendo, um texto de cada vez.

Notas de rodapé / referências

Lemos, A. (2013). Cibercultura. São Paulo: Editora Sulina.
Oliveira, M., & Rodrigues, L. (2020). Redes sociais e cultura digital no Brasil: usos, memes e criatividade popular. Revista Comunicação & Sociedade, 37(2), 45–63.
McLuhan, M. (1964). Understanding Media: The Extensions of Man. New York: McGraw-Hill.
Gothelf, J., & Seiden, J. (2013).
Lean UX: Applying Lean Principles to Improve User Experience. Sebastopol, CA: O’Reilly Media;
UX Collective (2021). The Guide to UX Writing.

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